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Thursday
Mar142013

Resumo: Um Corpo Estranho

Esta é a história de um ciborgue: o ciborgue Mear. Construído por especialistas em 1999 para atuar numa exposição em Berlim, ele conhece uma artista do corpo chamada O. que o instiga a novas aventuras, ao invés de ficar repetindo programas gravados em sua central para os visitantes da exposição. Sim, porque Mear nao é um ciborgue qualquer. Ele foi concebido com capacidades especiais, como a de se transformar na figura que quiser, de se teletransportar para qualquer lugar e tempo, e de entender e se expressar em qualquer forma de comunicação. Essas super habilidades têm por finalidade permitir que o ciborgue seja autônomo e se desenvolva no mundo humano, iniciando uma geração de seres melhor equipados.

Mear é alto, forte e tem uma aparência atraente para os padrões humanos, embora sua pele siliconada seja um tanto azulada. Mear tem ainda um cérebro humano implantado, mas ele não sabe ou não se lembra a quem pertenceu.

O drama de Mear se inicia quando ele descobre que os objetivos de seus criadores mudaram, pois eles estão negociando sua venda junto a uma empresa japonesa como protótipo de uma geração de ciborgues. Como a negociação com os japoneses avança, Mear e O. planejam uma viagem de conhecimento da história do corpo em alguns importantes momentos de sua representação nas artes e nas mídias, e o ciborgue parte, ou melhor, foge.

Assim como é incomum a história de um ciborgue, esta tem ainda outras singularidades, pois o primeiro capítulo traz uma reviravolta na ação temporal. Trata-se de uma festa promovida pelo Senhor Estrela onde convidados especiais, simulações daqueles entes que Mear encontrou em sua trajetória, reunem-se para conhecer o verdadeiro Mear ou reencontrá-lo. Entretanto, a festa transforma-se numa grande confusão quando os convidados discutem as possíveis hipóteses para o não comparecimento do homenageado, pois cada um deles tem argumentos ancorados em seus contextos, tempos e crenças. Diante do caos em que o encontro se transforma, o anfitrião tem que tomar uma atitude enérgica e aperta alguns botões de sua central.

Mas é a aventura de Mear pelo mundo do corpo que move o enredo, pois o ciborgue aprende e se desenvolve com as experiências das personagens com quem se encontra. Ele começa a viagem na Áustria, mais precisamente no Museu de História Natural de Viena, onde faz contato com a minúscula e gorducha estátua da Vênus de Willendorf, que reclama de sua infeliz vida no museu, contando-lhe sobre sua importante função mágica no grupo ao qual pertencia. Os dois se teletransportam para a Willendorf de mais de 25.000 anos atrás e o ciborgue experiencia o contexto do paleolítico.

Depois de peripécias com a venus, Mear parte para Berlim e experimenta uma versão feminina. Mear-mulher fica empolgada com a leveza e o balanço de seu corpo. A ciborgue está em 2003 para visitar a estátua da rainha Nefertiti, pois nesse ano uma egiptóloga britanica alardeou ter encontrado sua múmia. Isso podia mudar a história da famosa rainha da 18ª dinastia egípcia. Encarnado em um busto da rainha, o espírito de Nefertiti afirma que nao sabe que fim teve, se teria sido ou não mumificada e onde fora enterrada. Ela pede ao ciborgue para procurar sua múmia a fim de poder reeencarná-la e viver na eternidade. A ciborgue se teletransporta então para 1300 anos a.C. e relata à rainha o que vê. Mear conhece Amarna, a cidade construída pelo casal de reis e vai ainda à sua necrópole na pista da múmia.

Cansado de múmias e necrópoles, Mear desloca-se para Olímpia, cidade dos antigos jogos olímpicos. O ciborgue fica amigo do deus Hermes e conhece sua estátua com o pequeno Dionísio no colo, um modelo de beleza grega do artista Praxísteles. Hermes pede-lhe ajuda para conseguir o vinho para a festa de encerramento dos jogos. Transvestido como uma menade, a ciborgue participa de um bacanal com Dionísio e este lhe cede o vinho. Mear participa do banquete dos deuses, mas quando vai partir, Hermes lhe prega uma peça, que impede seu teletransporte para a próxima aventura. Como o ciborgue vai sair dessa?

Mas Mear consegue. O ciborgue então se transporta para 1400 d.C., para a Santa Colônia da Idade Média. Transfigurado em um monge beneditino, vai à abadia de Sta. Cecilia onde está o quadro “Madona com Violetas”, do pintor alemão Stefen Lochner. Através da abadessa Elisabeth von Reichenstein, patrona do quadro, inteira-se da crise religiosa da abadia: a Igreja e o imperador querem transformar a abadia leiga em um convento religioso. Mear participa do conflito e junto com padres e a abadessa é preso por desacato ao imperador e ao papa. O impasse não tem o final que o ciborgue espera e ele parte para a Itália.

Na Milão renascentista Mear conhece o artista Leonardo da Vinci já famoso e trabalhando para o duque Sforza. Através da empregada do artista o ciborgue fica sabendo de seu cotidiano e costumes. Leonardo explica-lhe seus quadros e engenhocas e Mear lhe apresenta o computador e a Internet. Com ajuda do supercomputador Luca, Leonardo faz uma intervenção em Mear.

Consertado e em Delft, na Holanda, Mear vê a cena do quadro “A Leiteira”, do pintor Johannes Vermeer, se repetir: é Tanneke preparando o mingau da manhã. Ele quer descobrir se Vermeer utilizou-se da câmera obscura na composição de seus iluminados quadros. Apresentando-se como especialista em câmeras escuras o ciborgue adentra num projeto secreto, pois o uso de lentes ou câmeras depunha contra a qualidade do trabalho dos artistas da época.

Outra coisa extraordinária nessa história é que o ciborgue tem sentimentos e se apaixona pela artista do corpo O. De alguma forma eles são parecidos e Mear se sente atraído por ela. Eles conversam por skype, trocam emails e um ligeiro namoro acontece numa fuga do ciborgue para o apartamento de O. em Paris. Ele se preocupa com a condição humana de O. e quer reverter seu envelhecimento, declínio e morte, mas como fará? A quem pedirá ajuda?

Mas voltemos à aventura.

Depois dos meandros sigilosos por que passou com Vermeer, Mear chega em 1832 à Quinta do Sordo, perto de Madri, e conhece Francisco de Goya nos seus 77 anos, doente e surdo. Goya termina as estranhas “Pinturas Negras” e conta a Mear que as criou como crítica à conservadora sociedade espanhola, à guerra e às atrocidades que viu. O artista é atormentado por sonhos e visões aterradoras e as retrata. Ele conta a Mear a história do afresco “Saturno devorando um filho”, que impressionou Mear. Nas noites em que fica na Quinta, o ciborgue também tem sonhos ou visões.

Ainda atordoado com os afrescos de Goya o ciborgue vai a Montmartre, na Paris de 1876. Em clima de festa, o “Baile do Moulin de la Galette” reúne o proletariado e os artistas num domingo de verão. Ali Mear vê Auguste Renoir com seus amigos. Travestido como uma menina, a ciborgue se aproxima e escuta os comentários negativos dos jornais sobre a última exposição impressionista. No meio da tarde, o amigo Lamy incentiva Renoir a pintar a cena daquele baile. Após certa exitação, Renoir concorda em retratar o baile com os amigos como figuras principais. Ele descreve como comporá a cena impressionista e a menina-Mear acaba acompanhando bem mais de perto do que imaginava o desenvolver do trabalho do artista.

Depois de servir de modelo para Renoir, Mear chega a Dessau em uma noite fria de 1926. Incorporado num jovem estudante, ele observa os ousados prédios da Bauhaus. O ciborgue assiste a uma aula do artista suíco Paul Klee e decide-se por uma tela: Senecio, uma cabeca geométrica. Ela se parece com o ciborgue. Ao observá-la, Mear descobre que a figura sussura e vira os olhos. Equipando Senecio com varetas para as pernas e pincéis para os braços, os dois pulam e rolam no gramado e o ciborgue sente-se feliz com as brincadeiras. Mas a brincadeira é interrompida por uma ameaça e Mear se envolve em muitas confusões para recuperar Senecio e devolvê-lo a Klee.

Após a aventura com Senecio, Mear está na Paris de 1943. É outono e garoa. No apartamento de Picasso ele ouve uma mulher chorando, mas encontra o artista num bar, cercado de amigos e centro das atenções. Mear presencia a discussão e o ciúmes da fotógrafa e namorada Dora Maar com as atenções que o mulherengo pintor dá a uma estudante. Quando descobre a tela cubista “Mulher com Alcachofra”, de 1941, espanta-se. Picasso estaria feliz quando a compôs ou sob a sombra da guerra? O ciborgue quer saber mais sobre o artista cubista e procura Dora. Ela mostra a documentação fotográfica que fez de “Guernica” e lhe apresenta Picasso pessoalmente.

Ainda pensando no genial Picasso, Mear parte para mais uma aventura, desta vez na Nova Iorque de 1972, sob a aparência de uma jovem hippie. Uma foto fantasmagórica da silhueta do artista Joseph Cornell, feita pelo fotógrafo Miguel Duna, interessou a ciborgue. Na porta de J. Cornell, Mear-hippie pede ao fotógrafo para participar do trabalho. Quando Cornell abre a porta, Mear, Duna e mais 2 assistentes se dão conta de que a casa fora assaltada. No quarto do artista Duna o fotografa. Os assistentes e Mear ajudam Cornell a arrumar os boxes, as pequenas caixinhas que ele constrói, e que haviam sido destruídas no assalto. Então, vem a constatação: o boxe ‘Vermeer’s Secret’ fora roubado. A polícia os investiga e interroga: eles são os principais suspeitos.

Safando-se de mal-entendidos, Mear chega em 2000 a Wellington, na Nova Zelândia, para conhecer o ator digital Gollum da trilogia de ‘O Senhor dos Anéis’. Como assistente de produção ele entra no set de filmagem e presencia tomadas de cena de Gollum feitas pelo ator Andy Serkis, que lhe dá voz e movimento. Na sala de projeção o ciborgue põe as últimas cenas prontas de Gollum para rodar e se teletransporta para dentro do filme. Ele conversa com Gollum sobre aquele corpo digitalizado, minguado e consumido pelos poderes do anel. Ao sair do filme Mear se percebe diferente, como se estivesse na fronteira entre a realidade do filme e a do mundo real.

Recuperando sua identidade, o ciborgue assiste a uma apresentação do artista multimídia Estrela, na Paris de 2011. Mear pede a ajuda de Estrela para transformar O. em ciborgue, a fim de que os dois possam encontrar um lugar no universo e estender suas vidas híbridas. Estrela incorpora o projeto, que é também o seu. Mear declara seu amor a O. e lhe faz a proposta-ciborgue. Enquanto O. pede tempo para pensar, Mear e Estrela vão ao laboratório do artista em Melbourne, Austrália, onde iniciam a criação de um ciborgue protótipo. Enquanto trabalham, o ciborgue pensa se O. irá aparecer. Estrela e sua equipe conseguirao concretizar o projeto ciborgue? o que resultará disso? O sonho de Mear se realizará?