Belinale Festival 2020
|POR MARIA TERESA SANTORO DÖRRENBERG
2020
Um festival de luzes e movimento transforma todos os anos o cinzento inverno alemão em um colorido e glamuroso palco de discussões e entretenimento. Estrelas do cinema em modelos leves e esvoaçantes desfilando sobre o tapete vermelho sob o frio, a chuva e a neve berlinenses fazem parte da tradição do festival.
É a Berlinale 2020, de 20 de fevereiro a 01 de março, considerada um dos maiores festivais internacionais de filmes, que este ano apresenta 340 filmes de diferentes setores e gêneros, sendo também o maior festival de cinema em termos de público, com venda de quase meio milhão de ingressos.
Queridinha do público porque essencialmente política, é uma oportunidade única de assistir a filmes pouco convencionais. A seleção de filmes é sensível à discriminação social e ao sexismo, com presença marcante de diretoras mulheres que já conquistaram 5 ursos e confirma a presença feminina em ascensão. O fator político sempre presente atua para impulsionar mudanças, como a volta da direita no mundo e a formação do presente.
Acontecendo logo depois do Oscar americano, a Berlinale alemã caracteriza-se por abrigar diversas categorias de filmes apresentados em inúmeros cinemas e casas de espetáculos em Berlim. Este ano, o ator britânico Jeremy Irons foi escolhido como presidente do júri e entregará o prêmio de melhor filme, o urso de ouro. A britânica Helen Mirren será também agraciada com um urso de ouro em homenagem ao montante de seu trabalho.
Comemorando 70 anos de existência, a Berlinale foi inaugurada no verão de 1951, no começo da guerra fria, sob o mote "uma vitrine do mundo livre", e estreou com glamour o filme Rebecca, de Alfred Hitchcock. Já em 51, o melhor filme, o urso de ouro, foi escolhido parcialmente pelo público.
Questões políticas mudaram o rumo do festival em 1970, quando a escolha do filme alemão o.k., de Michael Verhoeven, em branco e preto sobre a guerra no Vietnã, gerou controvérsias e contundentes confrontos, anulando o concurso do público e o próprio festival. Em 71 houve também inovação política com a inserção de filmes do bloco oriental de estados, incluindo filmes soviéticos e da DDR (República Democrática Alemã).
Desde 1976 a Berlinale é apresentada no inverno europeu e seu conceito passou a ser mais um festival de elaboração e trabalho do que um palco para celebridades do cinema.
O Brasil tem presença marcante no festival, lembrando que 2 filmes brasileiros – Central do Brasil, em 1999, e Tropa de Elite1, em 2010 – já abocanharam o Urso de Ouro, prêmio máximo da Berlinale. Em 2019, 12 filmes brasileiros concorreram a prêmios e o documentário Espero tua (re)volta, dirigido por Eliza Capai, sobre as manifestações estudantis em São Paulo que levou estudantes a ocuparem 200 escolas no estado e a Assembléia Legislativa, ganhou o Prêmio da Paz na Berlinale e o Prêmio da Anistia Internacional. Outro brasileiro Maringuella também concorreu a prêmio, apresentando as injustiças sociais e a ditadura no Brasil e lotou as salas de exibição.
Este ano 4 filmes brasileiros concorrem a prêmios, encabeçado por Todos os Mortos (All the Dead Ones), uma produção Brasil-França, de Caetano Gotardo e Mario Dutra que está na seleção dos 18 concorrentes ao Urso de Ouro. O filme apresenta uma reflexão sobre o Brasil e suas origens. Ambientado nos anos 1899-1900 e com viés na contemporaneidade paulistana, é a história do declínio de uma família paulista contada por 3 mulheres e a morte da doméstica, ex-escrava da família.
Na secção Panorama concorre Cidade Pássaro, de Matias Mariani. Na secção Generation, de filmes infanto-juvenis, está no páreo o brasileiro Meu Nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza. E na mostra Expanded concorre Apiyemiyekiu, de Ana Vaz.
Muita expectativa em torno da Berlinale 2020, depois de 18 anos sob a sólida direção do alemão Dieter Kosslick que se aposentou. Tempos de mudanças e novos ventos inovam o festival com a direção artística do italiano Carlo Chatrian (ex-diretor de Locarno) e a direção geral da holandesa Mariette Rissenbeeck (ex-diretora de filmes alemães).
Enquanto Cannes é chique e Veneza é quente, a Berlinale de Berlin é um festival de temas essencialmente contundentes, que acompanha a história do mundo e do cinema, lança novos filmes, cineastas e talentos, inova com novas categorias cinematográficas, incentiva bons projetos e abre portas para negócios vantajosos.
Uma das novidades é a nova versão de Berlin Alexanderplatz, produção afegã-alemã de Burhan Qurbani, do clássico romance de Alfred-Döblin.
Outra novidade é o concorrente DAU Natasha, de Ilya Khrzhanovskiy e Jekaterina Oertel, produção alemã, que faz parte do grande projeto DAU, evento russo do artista Ilya Khrzhanovskiy de reconstruir a era soviética dos anos 1930 até 1960 em forma de filme, teatro e arte performática, filmado 24 horas por dia, durante 2 anos e reunidos em 13 longas metragens, em cartaz até 17 de fevereiro no Teatro de la Ville e no Centro Pompidou, em Paris.
Em uma pausa na maratona do festival, o público pode ainda tentar assistir ao Stripper-Show de dança “Magic Mike”, no subsolo do centro do evento, na Potsdamer Platz.
18 Filme Concorrem ao Urso de Ouro:
Berlin Alexanderplatz
Alemanha/ Holanda
de Burhan Qurbani
DAU. Natasha
Alemanha/ Ucrânia / Reino Unido / Russia
de Ilya Khrzhanovskiy, Jekaterina Oertel
Domangchin yeoja (The Woman Who Ran)
Coreia
de Hong Sangsoo
Effacer l'historique (Delete History)
França / Bélgica
de Benoît Delépine, Gustave Kervern
El prófugo (The Intruder)
Argentina / Mexico
de Natalia Meta
Favolacce (Bad Tales)
Itália / Suíça
de Damiano & Fabio D‘Innocenzo
First Cow
USA
de Kelly Reichardt
Irradiés (Irradiated)
França / Kamboja
de Rithy Panh
Em Forma de Dokumentário
Le sel des larmes (The Salt of Tears)
França / Suíça
de Philippe Garrel
Never Rarely Sometimes Always
USA
de Eliza Hittman
Rizi (Days)
Tailândia
de Tsai Ming-Liang
The Roads Not Taken
Reino Unido
de Sally Potter
Schwesterlein (My Little Sister)
Suíça
de Stéphanie Chuat, Véronique Reymond
Sheytan vojud nadarad (There Is No Evil)
Alemanha / República Tcheca / Irã
de Mohammad Rasoulof
Siberia
Itália / Alemanha / México
de Abel Ferrara
Todos os mortos (All the Dead Ones)
Brasil / França
de Caetano Gotardo, Marco Dutra
Undine
Alemanha / França
de Christian Petzold
Volevo nascondermi (Hidden Away)
Itália
de Giorgio Diritti
Prêmios:
Urso de Ouro – melhor filme
Urso de Prata – prêmio do júri
Urso de Prata, prêmio Alfred-Brauer – especial do júri
Urso de Prata – melhor direção
Urso de Prata – melhor atriz
Urso de Prata – melhor ator
Urso de Prata – melhor roteiro
Urso de Prata – melhor concepção artística nas categorias câmera, corte, música, costume ou design