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Friday
Feb142020

Foto Synthese

POR MARIA TERESA SANTORO DÖRRENBERG
2019


Curiosidade sobre o pitoresco e ainda não conhecido, estranhamento com as possibilidades geométricas que a natureza desenhou numa folha, encantamento com o desenho encaracolado de um broto de samambaia, ou ainda contemplação da miríade de galhos-raízes de um mangue atraem o olhar do visitante para as fotos de espécimes da Mata Atlântica, retratadas pelo artista Ricardo de Vicq.

Apresentada na Embaixada Brasileira de Berlim, entre 17 de setembro e 02 de outubro último, a série de 50 fotos em preto e branco, de tamanho médio (12 fotos de 37 X 55 cm e 38 fotos de 29 X 43,5 cm) compõe a exposição FOTO SYNTHESE do fotógrafo brasileiro. Para o estrangeiro é uma experiência similar a dos naturalistas e botânicos europeus que criaram as antigas pinturas de um Brasil virgem e tropical nos séculos XVIII e XIX. 

São closes de embaúbas, detalhes de samambaias, panoramas de bambuzais, fragmentos de araucárias, perspectiva de jequitibás, entrançamentos de filodendros, suavidades de brejaúvas, variedades de bromélias e outros tantos tipos existentes unicamente na rica biodiversidade dessa floresta.

Escolhido entre fotógrafos do mundo inteiro, a exposição Foto Synthese integra o EMOP – European Month of Photography 2018 (Mês Europeu de Fotografia 2018), um projeto que reúne mais de 100 exposições espalhadas pela cidade alemã, transformando Berlim na capital da fotografia.

Ricardo de Vicq capta fragmentos da Mata Atlântica e os transforma em belas paisagens, documentadas em sutis transparências, ricos emaranhados e finos detalhes. Na verdade, em suas fotos, o artista sintetiza através da luz e das possibilidades da máquina um detalhado e delicado trabalho da natureza.

Uma das florestas de maior biodiversidade do planeta e, ao mesmo tempo, sucessivamente desmatada, a Mata Atlântica acompanha o litoral brasileiro estendendo-se por 17 estados e vem sendo documentada em pinturas, fotos e filmes, ou armazenada em coleções desde que o Brasil foi povoado.

O fotógrafo Ricardo de Vicq enriquece essa documentação, acrescentando nas imagens captadas da flora atlântica sua percepção e sua arte, na medida em que escolhe um determinado foco, um recorte interessante ou uma tecnologia especial a aplicar, inserindo essa seleção no objeto fotografado. „A foto acompanha o meu pensamento e a minha emoção “, justifica Ricardo.

Ele ainda acrescenta: “Fotografar é como revelar uma melodia que vai se compondo através de dois instrumentos silenciosos, uma câmera e um olhar. Um ato intuitivo, quando me deixo guiar pela emoção. Nasce de uma intenção, uma ideia, uma concepção que dita o rumo que devo tomar. Quando pego uma câmera com esse propósito, a emoção toma o lugar da razão. E é isso que eu procuro encontrar, seja numa paisagem, numa pessoa ou num objeto. Todos, a seu modo, carregam um sentimento. Ao fazer isso, sinto que estou, de alguma forma, sintonizado com meu tempo.“

Para o visitante brasileiro as imagens são também uma revelação. Por já estar integrado ao biossistema da mata, à sua diversidade, a biodiversidade da floresta passa despercebida. Segundo o IBF Instituto Brasileiro de Florestas, 61% da população brasileira vive no território da Mata Atlântica.   

Nessa produção, Ricardo revela e destaca a delicada estética feita pela natureza através de suas transparências e suas espessuras, ou seja, aquilo que não vemos ou que está escondido. Uma homenagem à exuberante mata brasileira e uma nova e bela proposta de leitura.