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Friday
Jan312020

A Modernidade de Burle Marx em Berlim

POR MARIA TERESA SANTORO
REVISTA DASARTES
2017

 

Paisagista, ambientalista, arquiteto, desenhista, pintor, cinzelador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, cenógrafo, designer de joias, decorador.

No coração de Berlim, o espaço de exposições do Deutsche Bank apresentou, entre 07 de julho e 03 de outubro, os múltiplos talentos do paulista Roberto Burle Marx (1909 – 1994), na exposição intitulada “Roberto Burle Marx: Tropische Moderne”.

Renomado pelos mais de mil jardins que projetou, o paisagista descobriu novas plantas nativas nas inúmeras viagens e expedições que fez pelas diversas regiões do país e as introduziu nos jardins que criou, reproduzindo em sua obra a diversidade fitogeográfica brasileira.

A exposição chama a atenção para os múltiplos talentos do artista, bem como para sua nova e revolucionária arte de projetar espaços, usar cores fortes, criar formas e texturas ousadas, e introduzir novos elementos, inaugurando uma beleza excepcional e revolucionária até então desconhecida.

Conhecido ainda, junto com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, pelo projeto da capital Brasília e de obras na cidade do Rio de Janeiro, como no abstrato mosaico que acompanha a praia de Copacabana, as criações de Burle Marx marcam a nova paisagem urbana nessas e em outras cidades, instaurando uma arquitetura diferente que uni natureza e arte, influenciando a modernidade tropical brasileira e expandindo-a pelo mundo.

Surpreendente na exposição é o trabalho monumental e diverso de Burle Marx, pouco divulgado até então. São seus projetos, suas joias e bijuterias, a pintura abstrata, os desenhos, as tapeçarias, as fachadas e esculturas assimétricas, misturando os meios e as disciplinas de forma geométrica e orgânica.

Depois da premiere no Museu Judeu de New York, em 2016, a mostra foi   apresentada pela primeira vez na Alemanha este ano. E a Alemanha teve  contribuição para a carreira do artista. Filho de Wilhelm Marx, um comerciante alemão, e de Cecília Burle, uma pianista brasileira que cultivava seu jardim, seus pais visitaram Berlim no início do século XX e o menino Roberto encantou-se com as bromélias, os nenúfares e os filodendros da estufa de plantas tropicais brasileiras que existe no Jardim Botânico da cidade, em Dahlem, pouco explorados nos jardins da época. Também marcaram o jovem Burle Marx a vida cultural européia pulsante da época, quando Berlim era um laboratório de modernidade.  De volta ao Brasil ele já se decidira pela junção da arte com a botânica: seus jardins revolucionários.

É de Burle Marx o pensamento: "Se o artista apenas reproduz os traços superficiais, como faz o fotógrafo, se registra com exatidão as diversas características de uma fisionomia, mas sem relacioná-la ao caráter, ele não merece ser admirado. A semelhança que ele deve atingir é a da alma."

A exposição concentra-se em mostrar os aspectos arquitetônicos e artísticos de sua carreira, documentando esse encontro definitivo e inovador. Ao lado dos projetos de prédios públicos e privados, residências e  parques estão as cerâmicas, os adornosa, as pinturas, os murais, os cenários e outros objetos que atestam não só seu amor à tradição de seu país e seu arrojo inventivo, mas também sua preocupação com o ambiente e com o humano.

Roberto Burle Marx, um ambientalista da modernidade, deixa ao mundo seus projetos e suas obras, um pioneiro como poucos, uma exposição mais do que merecida.