A Modernidade de Burle Marx em Berlim
|POR MARIA TERESA SANTORO
REVISTA DASARTES
2017
Paisagista, ambientalista, arquiteto, desenhista, pintor, cinzelador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, cenógrafo, designer de joias, decorador.
No coração de Berlim, o espaço de exposições do Deutsche Bank apresentou, entre 07 de julho e 03 de outubro, os múltiplos talentos do paulista Roberto Burle Marx (1909 – 1994), na exposição intitulada “Roberto Burle Marx: Tropische Moderne”.
Renomado pelos mais de mil jardins que projetou, o paisagista descobriu novas plantas nativas nas inúmeras viagens e expedições que fez pelas diversas regiões do país e as introduziu nos jardins que criou, reproduzindo em sua obra a diversidade fitogeográfica brasileira.
A exposição chama a atenção para os múltiplos talentos do artista, bem como para sua nova e revolucionária arte de projetar espaços, usar cores fortes, criar formas e texturas ousadas, e introduzir novos elementos, inaugurando uma beleza excepcional e revolucionária até então desconhecida.
Conhecido ainda, junto com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, pelo projeto da capital Brasília e de obras na cidade do Rio de Janeiro, como no abstrato mosaico que acompanha a praia de Copacabana, as criações de Burle Marx marcam a nova paisagem urbana nessas e em outras cidades, instaurando uma arquitetura diferente que uni natureza e arte, influenciando a modernidade tropical brasileira e expandindo-a pelo mundo.
Surpreendente na exposição é o trabalho monumental e diverso de Burle Marx, pouco divulgado até então. São seus projetos, suas joias e bijuterias, a pintura abstrata, os desenhos, as tapeçarias, as fachadas e esculturas assimétricas, misturando os meios e as disciplinas de forma geométrica e orgânica.
Depois da premiere no Museu Judeu de New York, em 2016, a mostra foi apresentada pela primeira vez na Alemanha este ano. E a Alemanha teve contribuição para a carreira do artista. Filho de Wilhelm Marx, um comerciante alemão, e de Cecília Burle, uma pianista brasileira que cultivava seu jardim, seus pais visitaram Berlim no início do século XX e o menino Roberto encantou-se com as bromélias, os nenúfares e os filodendros da estufa de plantas tropicais brasileiras que existe no Jardim Botânico da cidade, em Dahlem, pouco explorados nos jardins da época. Também marcaram o jovem Burle Marx a vida cultural européia pulsante da época, quando Berlim era um laboratório de modernidade. De volta ao Brasil ele já se decidira pela junção da arte com a botânica: seus jardins revolucionários.
É de Burle Marx o pensamento: "Se o artista apenas reproduz os traços superficiais, como faz o fotógrafo, se registra com exatidão as diversas características de uma fisionomia, mas sem relacioná-la ao caráter, ele não merece ser admirado. A semelhança que ele deve atingir é a da alma."
A exposição concentra-se em mostrar os aspectos arquitetônicos e artísticos de sua carreira, documentando esse encontro definitivo e inovador. Ao lado dos projetos de prédios públicos e privados, residências e parques estão as cerâmicas, os adornosa, as pinturas, os murais, os cenários e outros objetos que atestam não só seu amor à tradição de seu país e seu arrojo inventivo, mas também sua preocupação com o ambiente e com o humano.
Roberto Burle Marx, um ambientalista da modernidade, deixa ao mundo seus projetos e suas obras, um pioneiro como poucos, uma exposição mais do que merecida.